AUTOREGULAÇÃO

Autocontrolo e Adiamento da Gratificação: Teste do Marshmallow

   O teste do marshmallow foi uma experiência com grande notoriedade conduzida pelo psicólogo Walter Mischel durante as décadas de 60 e 70. O teste consistia em deixar uma criança com idade entre os 4 e os 5 anos sentada sozinha numa sala, apenas com um marshmallow (ou outro doce qualquer) à sua frente, dando-lhe duas opções: 1) poderia comê-lo de imediato ou, 2) se conseguisse, poderia esperar entre 15 a 20 minutos sem o comer e, caso o fizesse, seria recompensada com mais um marshmallow.  A intenção original do teste seria avaliar a capacidade de autocontrolo e de adiamento da gratificação dessas mesmas crianças. Verificou-se que dois terços das crianças cederam à tentação, enquanto que apenas um terço conseguiu resistir os cerca de 20 minutos sem comer o marshmallow. 

   Mais tarde, a experiência acabou por transmitir a ideia de que as crianças que não conseguiam opor-se à tentação de comer de imediato o doce estariam condenadas ao insucesso, ao que Walter Mischel replicou: "the idea that your child is doomed if she chooses not to wait for her marshmallows is really a serius misinterpretation". No fundo, o que Mischel pretendia demonstrar não era o valor preditivo do autocontrolo, mas que o autocontrolo poderia ser ensinado. Posto isto, não faria sentido considerar que uma criança que não demonstrasse ter uma grande capacidade de autocontrolo no teste nunca a teria, uma vez que esta pode ser ensinada e aprendida mais tarde no decorrer da sua vida.

O autocontrolo pode ser ensinado através de várias estratégias, tais como:

• Distrair a atenção daquilo que queremos ignorar;   
• Objetivos realistas;
• Estabelecer prazos para feedback e para objetivos;
• Estratégias if-then (se... então...):
• Criar novos hábitos em resposta à mesma situação
• Ex: Quando chegar a casa vou verificar se tenho algo da escola para fazer, em vez de jogar videojogos.
• Arrefecer o agora, aquecer o adiado:
• Ex: Visualizar o momento em que se realiza uma prova.

Atividade Cerebral: Sistema Emocional e Sistema Frontal

   É também importante referir que a atividade cerebral no sistema frontal e no sistema emocional predizem o comportamento e, por conseguinte, a capacidade de adiamento da gratificação de um indivíduo. O ser humano possui 2 sistemas que regulam o seu comportamento: o sistema límbico (sistema emocional) e o córtex pré-frontal (sistema frontal). 

   O sistema límbico é responsável, principalmente, por comportamentos emocionais e sexuais, aprendizagem, memória e motivação. Enquanto que, o córtex pré-frontal relaciona-se com o planeamento de comportamentos e pensamentos complexos, expressão da personalidade e tomada de decisões. O sistema frontal tem, portanto, um papel crucial no que concerne ao autocontrolo e ao adiamento da gratificação, uma vez que é ele o responsável pela racionalização necessária para o efeito. Para além disto, é importante mencionar que esse sistema vai se desenvolvendo durante a infância e a adolescência (sendo que nesta fase quem prevalece é claramente o sistema emocional), pelo que uma criança que não apresente uma boa capacidade de autocontrolo pode culpar o seu córtex pré-frontal por ainda estar nos primórdios do seu desenvolvimento. Nestes casos, é então necessário arranjar formas de exercitar o sistema frontal destas crianças ao invés de as considerar como futuros casos irremediáveis de insucesso.