ENTREVISTA - INTELIGÊNCIA(S)


   Nós como grupo acreditamos que esse tema apresenta uma forte ligação com a Educação e com questões pedagógicas. Portanto, realizamos uma entrevista com um Professor da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto (FADEUP) cuja área de especialização consiste na Pedagogia do Desporto.

   O Professor debruçou-se em questões que vão desde a educação - em seu sentido global - até às especificidades do contexto desportivo. Segue abaixo trechos da entrevista: 


   Sobre a relevância de considerar a existência de múltiplas inteligências no ato educativo, o Professor acredita que:

   "Isso é absolutamente fundamental. Isso é ponto assente, nós olhamos para a mesma situação e isto é extremamente complexo. Por isso que é tão interessante e por isso que é um campo de investigação e de conhecimento que nunca estará acabado, porque ele acompanha a própria mudança, o próprio ser humano muda, do ponto de vista antropológico, aquilo que é a sua configuração, a maneira como aprende as suas necessidades e isto vai mudando. Como tal, isso também vai mudando a maneira como as pessoas aprendem e como as questões socioculturais influenciam a maneira como entendemos o mundo à nossa volta e tudo o que é a aprendizagem que nós temos que realizar"


   Relativamente à perspetiva do professor, é importante o desenvolvimento das inteligências lógico-matemática e linguística, bem como, da forma como estas, simultaneamente, se podem conciliar com o desenvolver de outros tipos de inteligência, como a interpessoal.

   "A questão da linguística, do raciocínio lógico e desse tipo de competências não exclui as questões do desenvolvimento das relações interpessoais. Está tudo relacionado com a maneira como nós promovemos essa aprendizagem. A própria dinâmica que se introduz para aprender ou desenvolver estes processos é que tem que apelar a isso. Portanto, a meu ver, essas questões da linguística e da lógica matemática são fundamentais, mas numa perspetiva de serem uma ferramenta para capacitar o ser humano de uma forma mais global, do ponto de vista holístico e de forma integrada. No fundo, deve-se conectar aquilo que se aprende com as questões importantes e significativas na vida das pessoas e capacitá-las para a vida em si não as compartimentando num conjunto de operações que se tem que dominar ou em conteúdos que se tem que saber."


   Em relação às aprendizagens, o professor sustenta e dá importância à existência de diferentes estilos de aprendizagem.

   "Até se fala nos estilos de aprendizagem. Ao fim ao cabo, temos que considerar também, na nossa ação enquanto educadores desportivos, quer como treinadores quer como professores, perceber que as pessoas compreendem e aprendem de maneiras diferentes."

[...]

   [Educador desportivo] "Nem toda a gente tem que aprender ao mesmo ritmo, nem exatamente a mesma coisa e nem da mesma maneira. E depois é também a dificuldade de operacionalizar isso, que é extremamente difícil. Trabalhamos por níveis, mas há diversas maneiras que se estendem para além dessas estratégias específicas. É difícil, mas o que interessa é darmos o primeiro passo no sentido de atender a essa diferenciação na aprendizagem do ser humano"


   Ainda, o professor refletiu acerca dificuldades de pôr em prática essa conceção mais abrangente:

   "Nós temos o paradigma muito focado na comparação, muito normativa. O que é que isso quer dizer: toda gente tem que responder as mesmas perguntas no mesmo exame, etc. Isso também já é influenciado por todo um paradigma de pensamento que ilumina, que orienta o próprio paradigma da educação e do que deve ser. Ou seja, por muito que o educador queira pôr em prática, queira atender a essa unicidade, esse caráter único da inteligência individual, que as pessoas têm diferentes tipos de inteligência e aprendem mais (há pessoas que têm que esquematizar, há outras que é a questão verbal, que é memorizar), [...] o educador pode não o conseguir, por ter restrições do ponto de vista do próprio paradigma, o sistema não lhe permite essa individualização. Isso começa com, por exemplo termos turmas de 30 alunos, termos um currículo muito focado no conteúdo e não tanto no processo, questões assim. Depois isso manifesta-se nas indicações curriculares e do ponto de vista do treino manifesta-se como? Também nas orientações que nós temos para a formação de treinadores."


No campo desportivo...


   Indo além das inteligências múltiplas de Gardner, o Professor considerou que a multiplicidade de "inteligências" também pode ser observada no campo específico do desporto:

   "Portanto, é um conceito muito abrangente. No campo específico do desporto, que é um campo muito particular, a inteligência também se manifesta de muitas maneiras, pode-se manifestar na nossa prática, na maneira como lemos informação e na maneira como agimos. Portanto, no meu ponto de vista, a inteligência nunca é um construto fechado, do ponto de vista de ser só teórico ou do ponto de vista de ser só cognitivo, então associado ao desporto, tem uma vertente da ação ou é ligada a uma funcionalidade."


   Em específico no campo do desporto, o professor discorre acerca da complexidade da inteligência no desporto:

   "Em relação à expressão corporal, acredito que não há educação completa e de qualidade sem educação pelo corpo e pelo movimento. E nós sabemos que essa questão da inteligência na área do desporto é muito complexa. Isto porque envolve uma ligação integrada entre o pensar e o agir utilizando todo o corpo em situações contextuais altamente complexas. Por exemplo, numa situação de um jogo. Temos o colega e temos o adversário, temos a bola e temos o espaço, temos a chuva e temos o calor, temos o terreno de jogo, temos a dimensão da bola, temos, também, as questões relacionais, a maneira como interagimos uns com os outros, criam-se redes de comunicação com os colegas e com os adversários. Portanto, é lógico que há uma elevada complexidade nesse campo da inteligência no desporto."


   Ainda nesta área da inteligência no desporto, o professor fala sobre a dificuldade dos profissionais em educar os jovens nesse âmbito.

   "Do ponto de vista educacional, é lógico que, se nós formos aos currículos de Educação Física, surgem «como grandes competências transversais, capacidade de colaborar, de resolver problemas colaborativamente, de comunicar e expressar ideias com fluência, de tomar decisões inteligentes, ponderadas e adequadas à situação, etc.». Agora, não é o que se aprende, é como se aprende, como se desenha, depois, o tipo de interações e de processos que têm que ser desenvolvidos. Acho que ainda há um défice na maneira dos profissionais conseguirem quebrar essa barreira porque é um paradigma já muito antigo."


   Acerca de caminhos para solucionar os problemas desta temática o professor discorre:

   "Por exemplo, o caso dos modelos de ensino, os modelos de ensino para mim não devem ser implementados como um dogma ou como sendo a salvação para algo. Devem sim ser utilizados de forma inteligente para responder aos grandes problemas que nós temos na nossa prática profissional, neste caso daquilo do que temos à nossa frente ao promover a aprendizagem motora no ponto de vista da literacia física, se quiserem na educação física, ou também na literacia desportiva no campo do treino. Portanto, primeiro temos que ver os grandes problemas, o que é que eu quero desenvolver? Que aluno é que eu quero, se quero um aluno só reprodutor, se quero um aluno com capacidade para se auto monitorizar ao longo da sua vida?"


   Mais especificamente o professor reflete sobre a metacognição, um tipo de "ferramenta" para estimular, por exemplo a inteligência cinestésica corporal.

   "Portanto, isso tem que ser o tipo de ferramenta, e isso é o que nós dizemos, da metacognição. O que isso tem a ver, aponta para quê? Para eles terem oportunidade para analisarem a sua própria prática e já temos, por exemplo, agora já se usa muitas questões audiovisuais, o feedback aumentado. Ou seja, para pegarmos nas questões de desenvolver a capacidade de analisar, de ler a informação do contexto, de compreender, extrair significados, e trata-se de termos um espaço no treino ou na aula em que dedicamos a esses processos. Porque o atleta, o praticante, ele não se vê a ele próprio, percebem? Ele não se consegue ver a si próprio e muitas vezes aquilo que é o padrão motor ele não consegue ver. Muitas vezes mesmo só com o estímulo externo não chega, portanto, essa parte é muito importante." 


   Relativamente ao contexto de treino, o professor dá o exemplo do modelo "Games Sense", que desenvolve jogadores "pensantes/inteligentes"

   "...e depois temos o "Game Sense" que é mais nos contextos de treino. Portanto e essa corrente quer o quê? Jogadores inteligentes muito talhados para a tomada de decisão, para a leitura, para análise. Mas para isso, a dinâmica do processo de treino tem que apelar ao desenvolvimento dessa inteligência pois não irá emergir espontaneamente.

   Do ponto de vista da aprendizagem cooperativa é um modelo que nos dá ferramentas específicas, ou seja, uma coisa é trabalhar em grupo, outra coisa é aprender cooperativamente. Para aprender cooperativamente tem que haver a interdependência positiva, desenvolvimento das skills pessoais, tem que haver debate face a face, tem que haver processamento cognitivo. Ou seja, é preciso que a tarefa, o exercício tenha uma dinâmica específica para garantir esses processos. Aqui, uma vez mais, o desenvolvimento da inteligência social, emocional, a capacidade de comunicarmos com os outros, são vitais. Simultaneamente, alimentam o desenvolvimento do grupo, enquanto coletividade que converge nos significados e sobretudo nas ações coletivas que colocam em prática fruto dessa construção, e, também, desenvolvem-se (capacidades) a si mesmas através das interações que daí emanam." 

CONTACTOS:

Francisco Silva - up202006686@edu.fade.up.pt 
Gabriel Fonseca - up202004065@edu.fade.up.pt
Gaspar Almeida - up202007206@edu.fade.up.pt
José Ribeiro - up202007074@edu.fade.up.pt  
Contacto do Grupo - psicdesenvfadeup@gmail.com

 
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