MATURIDADE
Grau de investimento pessoal, transição jovem-adulto e relógio social.
TEDx Talks - Why does it take so long to grow up today? | Jeffrey Jensen Arnett | TEDxPSU
No decorrer das nossas vidas as nossas prioridades não são sempre as mesmas. Elas vão-se alterando consoante o nosso grau de maturidade e de experiências pessoais, como ilustrado na tabela abaixo:
Mas o que define maturidade?
Em primeiro lugar, existem os critérios objetivos, ou seja, aqueles que generalizam a idade em que se atinge maturidade suficiente para adquirir uma certa função ou direito, como o direito de voto, a possibilidade de tirar a carta de condução ou até mesmo de ser presidente da república. Ora, mas estes critérios não conseguem ter algo em consideração, o facto de que a maturidade não é definida pela idade, mas sim pelas características individuais do indivíduo e, muitas vezes, também pelos fatores externos a ele envolvidos. Portanto, se quisermos generalizar o período em que se alcança a maturidade, a idade é sem dúvida uma boa maneira de o fazer. No entanto, se quisermos uma avaliação rigorosa e individualizada é importante considerar fatores internos, tais como as características individuais do indivíduo e externos (que podem influenciar os anteriores) como ser empregado, ser pai e/ou ser financeiramente independente.
Relógio Social
Tendo em conta o último ponto referido, os fatores/critérios externos que levam ao alcance da maturidade, pode-se verificar que esses estão muitas vezes associados a prazos de concretização, ao que podemos chamar, relógio social. Este consiste numa data limite para a realização de certos objetivos ou patamares na vida de uma pessoa, como tirar a carta de condução, tirar um curso superior, sair da casa dos pais, casar, ter filhos, etc.
Como pode-se verificar na imagem acima, em 2019 os jovens portugueses em média saíram de casa aos 29 anos, cerca de 10 anos mais tarde do que o que acontecia à cerca de duas ou três décadas atrás. Este adiamento da conquista de certas patamares no decorrer da vida, pode também adiar a aquisição do nível de maturidade desejado aquando dos 18 anos, por exemplo, em que já é expectável que os jovens sejam capazes de votar ou conduzir ou até mesmo beber de forma responsável, e o mesmo pode não acontecer uma vez que o seu relógio social encontra-se tão atrasado relativamente aos seus antepassados. Portanto, é fundamental atualizar-se a generalização dos critérios objetivos de definição de maturidade, uma vez que ter em consideração os critérios subjetivos seria o ideal, mas ao mesmo tempo inexequível, e também porque o relógio social, que está associado aos fatores/critérios externos da maturidade, tem vindo a modificar-se bastante ao longo dos anos.
Maturidade no Desporto
Relacionando agora o tema da maturidade com o campo do desporto, mais especificamente no futebol, é impossível negar que a componente mental de um atleta é um ingrediente fundamental para o sucesso desportivo em contextos de alto-rendimento e de formação, sendo também importante a nível pessoal. Sendo assim, iremos debruçar-nos sobre 3 tópicos que abordem esta temática da maturidade em contexto desportivo:
- Jogadores profissionais de futebol são pais cada vez mais jovens;
- Mais maturidade, mais senso de responsabilidade=mais sucesso;
- Jogadores que jogam em escalões que não são o seu por vezes não têm sucesso.
Começando pelo primeiro tópico, é notório que cada vez mais os jogadores profissionais de futebol são pais mais jovens. Temos vários exemplos de jogadores que foram pais pela primeira vez antes dos 25 anos. Recentemente, o internacional sub21 português Vítor Ferreira (Vitinha) anunciou que ia ser pai, ele tem 21 anos. Uma das razões que nos vai logo à cabeça para isto acontecer é a estabilidade financeira que a maioria dos atletas profissionais tem. No entanto, a principal razão para tal é o facto de, em geral, os atletas profissionais terem uma maturidade e senso de responsabilidade bastante elevada para as suas idades. Isto deve-se sobretudo por eles, desde jovens crianças, perseguirem o sonho de se tornarem futebolistas, e para tal é necessário ter um enorme sentido de sacrifício e responsabilidade apesar da idade. Por exemplo, quando uma criança de 12 anos se muda para as instalações de uma academia de formação; isso exige um grande sentido de responsabilidade e de compromisso. Todos estes estímulos recebidos ao longo da sua formação são precisos e transportados para quando se tornam profissionais.
O segundo tópico segue na mesma linha e trata da premissa que quanto mais maturidade um jogador tiver maior sucesso ele terá na sua carreira desportiva. Para ilustrar esta afirmação vamos abordar os exemplos dos 2 maiores e melhores jogadores de futebol de sempre, Lionel Messi e Cristiano Ronaldo. Ambos, desde muito pequenos lidaram com responsabilidades e situações que quase nenhuma criança passa na sua infância. Os dois saíram de casa precocemente para irem viver nas academias dos seus respetivos clubes, e ao longo dos seus anos de formação passaram por dificuldades que nenhuma criança devia passar. Desde o escasso contacto com as suas famílias até à saída das suas zonas de conforto, tudo isso permitiu um grande desenvolvimento a nível mental (maturidade) e também em características essenciais para o sucesso desportiva como resiliência e disciplina. Tanto Cristiano como Messi possuem estas valências, que foram importantes para a longevidade (com rendimento) que apresentam nas suas carreiras.
Por último, um tópico que tem vindo a ganhar palco ao longo dos últimos anos, a "pressa" que muitas vezes os clubes têm em relação aos seus jovens jogadores quanto ao seu rendimento e à sua integração em escalões mais velhos. Por vezes vemos muitos clubes que por diversas razões apostam nos seus jovens nas equipas seniores, e quando estes jovens não são lançados de uma forma consistente e responsável, o rendimento cai e a pressão sobre estes começa a aparecer. E agora perguntamos, porque é que há esta quebra de rendimento? Uma certeza temos, não é por causa da qualidade técnica que o jogador apresenta. Muitas das vezes é devido ao jogador ainda não estar preparado mentalmente para a pressão existente no futebol profissional. Cada jogador é um caso e tem o seu tempo para chegar ao nível de maturidade exigido para render em contexto de alto rendimento. Os clubes e treinadores na maior parte das vezes, ao mínimo erro de um atleta jovem param de apostar nele e põem-no de lado. Muito provavelmente este decréscimo de rendimento deve-se aos clubes não terem a capacidade para avaliar o nível mental e psicológico dos seus atletas, pois muitas das vezes estes atletas por muito talentosos que possam ser e por muitas capas de jornais que possam vir a fazer, podem ainda precisar de um contexto menos exigente para continuar a desenvolverem as suas capacidades mentais. Os clubes têm que ter consciência que os jovens talentos não são somente potenciais ativos valiosos para o clube, continuam a ser seres humanos que têm o sonho de chegar a profissional. Esta moda da "pressa" dos clubes pode custar potenciais carreiras a estes jovens jogadores.