MORALIDADE NO FUTEBOL


   O futebol surgiu na Inglaterra no século XIX, na qual sua prática era fortemente sustentada pelo seu valor educativo e moral. A princípio, consistia apenas numa atividade de caráter amador, praticado principalmente nas instituições educativas. Assim, prezava-se e valorizava-se a Ética Desportiva e os valores morais, surgindo assim o Fair Play.

   Entretanto, com a posterior profissionalização do futebol e o maior envolvimento financeiro, os resultados passaram a ser o ponto fulcral. Dessa forma, introduziu-se uma Cultura Resultadista na modalidade, na qual o mais importante consiste em ganhar a partida. Então, toda a ação que justifique a obtenção do resultado positivo passou a ser estimulada, por mais antiética que seja. Portanto, emerge a ideia de que no futebol "os fins justificam os meios". 

   É nesse sentido que surge o conceito de antijogo no futebol. Este consiste no desrespeito pelas regras do jogo por parte dos seus intervenientes, desde os jogadores às equipas técnicas. As irregularidades que, comumente, são associadas ao antijogo são: comportamentos agressivos, simulações, o retardar da retoma da bola em jogo, entre outras. É bastante comum, assistirmos a demoras em substituições ou em pontapés de baliza e as equipas que o fazem nem sempre são as chamadas "equipas pequenas". Vemos, muitas vezes, os próprios "grandes" a fazê-lo com o objetivo de segurar o resultado.

Neymar Jr. - Mundial 2018

   No entanto, não é só dessas demoras que se trata o antijogo, é também, como vimos, de comportamentos agressivos, sejam eles dentro ou fora do campo, durante, antes ou após o encontro. No passado dia 26 de abril assistiu-se a uma agressão lamentável nas imediações do recinto de jogo, por parte de um empresário com ligações ao Futebol Clube do Porto a um repórter de imagem ali presente, envergonhando qualquer um que seja adepto do desporto.

   Ora, tudo isto tem contribuído para a degradação do espetáculo que deveria ser o desporto-rei. O tempo útil médio de jogo na primeira divisão portuguesa de futebol é de apenas 49 minutos. Isto é preocupante, tendo em conta que um encontro tem 90 e sabemos que tal se deve, em grande parte, ao próprio antijogo cá praticado.



Antijogo na Formação

   Ainda existem treinadores na formação que valorizam mais a obtenção e o aprimoramento da técnica, da tática e de componentes físicas do que o resultado no fim de semana. No entanto, muitos, a maioria talvez, continua a sobrevalorizar a importância dos resultados desportivos ao nível da formação. Ora, quando os resultados desportivos se sobrepõem ao que realmente interessa nas camadas jovens, a evolução dos atletas, a qualidade decai e o antijogo surge.

   Vários fatores contribuem para essa mentalidade dos treinadores e, consequentemente, dos jogadores de formação:

  1.    Só chega a profissional quem está em grandes equipas - existem muitos casos que contrariam isto, temos o exemplo recente de Zaidu Sanusi que em 2019 ainda militava no campeonato de Portugal num modesto SC Mirandela e que no ano seguinte já estaria a ganhar a Supertaça Cândido de Oliveira ao serviço do FC Porto. Contudo, exemplos como esse não são de todo usuais, por conseguinte, muitos jovens e treinadores até, sentem que estão numa corrida contra o tempo no sentido de chegar a um clube de primeira.
  2.    Melhores resultados = melhores adversários = maior evolução - quando não é possível chegar a grandes palcos através da qualidade de jogo, os resultados desportivos são um método eficaz de lá chegar. Infelizmente nem sempre é possível premiar as equipas que praticam bom futebol com vitórias e, uma vez que são essas vitórias que determinam subidas e descidas de divisões, e um incremento na competitividade e qualidade dos jogos, muitas vezes os jogadores acabam por fazer de tudo de modo a que consigam alcançar os resultados desportivos desejados, mesmo que tenham que recorrer ao antijogo.
  3.    Ver o clube do coração em grandes palcos - o "amor à camisola" também pode ser um fator determinante para a prática do antijogo, uma vez que isso pode levar os jogadores/treinadores a fazer tudo o que está ao seu alcance, de maneira a conduzir o seu clube à glória.

   Portanto, é o antijogo ensinado na formação? Sim, sem dúvida alguma! E continuará a ser enquanto quem o praticar for recompensado, ao invés de ser punido, porque a competência e a qualidade não estão ao alcance de todos, mas os comportamentos antiéticos estão.


26ª Jornada Flash Interview (Sérgio Conceição) - derrota do FC Porto frente ao Paços de Ferreira por 1-0, num jogo marcado pelo persistente antijogo da equipa da capital do móvel - 11 de março de 2018


Como Combater o Antijogo

   Um recente estudo mostra que em Portugal, em média, um jogo de futebol tem 49 minutos de tempo útil. O principal fator que determina esta desapontante estatística é o antijogo praticado pelos principais intervenientes do futebol, os jogadores e os treinadores.

   Existem 3 áreas onde podemos intervir para exterminar o antijogo do desporto. 

  1. Temos a área regulamentar, onde se inserem os árbitros;
  2. A área técnico-tática do jogo, representada pelos treinadores;
  3. A área dos intervenientes diretos do jogo, os jogadores.

   Em relação à área regulamentar, existem várias ideias e medidas que já foram implementadas e que ainda podem vir a ser. Cronometrar o jogo, passando para duas partes de 30min, foi uma medida proposta pelo "International Board" para erradicar as perdas de tempo e acabar com os tempos de compensação. Outras medidas que podem ser mais rapidamente aplicadas são a retificação do modo como as substituições e as assistências médicas são feitas: 

  • Substituições volantes (supervisionadas pelo 4º Árbitro, sem que fosse necessária a interrupção da partida, com a exceção das trocas de guarda-redes); 
  • Assistências médicas em campo (sem que o jogo tivesse que parar, menos em lesões consideradas graves).

   Por outro lado, os treinadores na forma como preparam as suas equipas também têm um papel preponderante na questão do antijogo. No nosso país a questão do antijogo e do fairplay é uma matéria muito cultural, a maioria ainda defende que vale tudo para ganhar, enquanto que em outros países essa mentalidade já começa a desvanecer ou, nunca existiu de todo. É pois correto afirmar que o futebol em Portugal mergulhou na era do "resultadismo" em que vale tudo para ganhar, em que o resultado é maior do que o processo. Costuma-se dizer que em Portugal não se gosta de futebol, gosta-se de ganhar. E com razão. Existe uma prática de antijogo normal que é protagonizada pelas equipas menores em que a busca do ponto é feita incorrendo numa tentativa de anular os adversários, muitas vezes não procurando jogar, mas sim impedir os outros de jogar. É uma prática comum, mas é obviamente lamentável não sendo; no entanto, condenável, mas antes de apontarmos o dedo, temos de perceber as razões.

   Em Portugal, existe uma discrepância enorme no que toca a orçamentos entre as ditas equipas grandes e as restantes, isso leva a que os treinadores dessas mesmas equipas façam de tudo para conseguirem pontuar. Isso não justifica que as equipas incorram em antijogo, mas é preciso perceber o porquê e tentar fazer com que isso não aconteça. Por um lado, é a questão da distribuição do dinheiro no nosso país. Não é por acaso que as equipas grandes, que são três ou quatro, perdem menos pontos com as equipas menores do que nos outros campeonatos, porque os outros campeonatos são muito mais disputados, ou seja, há um maior equilíbrio. Esbater esse desequilíbrio passa por equilibrar o campeonato, por dotar as equipas mais pequenas de outras armas que façam com que elas possam jogar um jogo menos desnivelado. Sendo assim uma das medidas que já se pretende implementar é a centralização dos direitos televisivos, assim o desnível financeiro entre as equipas já será mais equilibrado.

   Para finalizar, os jogadores também têm um papel importantíssimo no extermínio do antijogo. É mais difícil de intervir nesta área, uma vez que é um processo que tem de vir já desde a formação. É nesse período de tempo que temos de estimular os jogadores para unicamente jogarem futebol e se divertirem e deixaram o resultado para um plano secundário. Assim irão ter um maior respeito pelo fenómeno futebolístico e aproveitarem todas as oportunidades, em idade sénior, para demonstrarem o seu talento ao mundo.

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